(H)À Educação

A Coordenadora do Ensino Português no Estrangeiro na Suíça, Lurdes Gonçalves, apresentou o EPE (Ensino Português no Estrangeiro), em geral, e o caso do EPE na Suíça, em específico, num artigo de opinião no Jornal Diário de Aveiro, no passado dia 27 de dezembro de 2018.

No artigo a Coordenadora Lurdes Gonçalves retrata de forma sucinta os alunos que frequentam os cursos, menciona como funcionam as aulas dos cursos LCP, na generalidade paralelamente ao ensino regular suíço bem como indica as várias tarefas gestivas que o corpo docente desmpenha.

Citamos:
(H)À Educação
Lurdes Gonçalves* mgoncalves@ua.pt
Sentir e aprender Portugal de outro lugar: qual o contributo do EPE?
No dia 18 de dezembro assinala-se o Dia Internacional das Migrações, proclamado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2000. Nesta data celebra-se a migração, enquanto manifestação corajosa da vontade da pessoa em superar a adversidade e em alcançar uma vida melhor. Com efeito, a procura de melhores condições de vida ou de novas experiências e oportunidades faz muitos portugueses deixar Portugal. Segundo os dados do Observatório da Emigração, em 2017, o total de emigrantes portugueses no mundo era de 2.266.735. Destes, 1.502.151 concentram-se na Europa.
Mas mudar de país não implica mudar de matriz cultural! Na verdade, a grande maioria dos emigrantes portugueses mantém a ligação ao país, à cultura e à língua portuguesas, tanto nos seus hábitos quotidianos, como no seio familiar, passando-a às gerações seguintes.
Nesta tarefa, o Ensino de Português no Estrangeiro (EPE) constitui-se como um grande aliado das famílias, no que se refere à preservação da matriz cultural portuguesa, através do desenvolvimento linguístico e cultural das crianças e jovens luso-descendentes.
O EPE é uma modalidade de educação escolar inscrita na Lei de Bases do Sistema Educativo Português e tem como objetivos afirmar e difundir a língua e a cultura portuguesas no mundo, permitindo a sua aprendizagem junto das comunidades luso-descendentes. Está presente nos países com grande número de emigrantes portugueses, em todos os continentes. Na Europa, destacam-se a Alemanha, Espanha, França, Luxemburgo, Bélgica, Reino Unido e Suíça.
Esta importante missão de ensino e divulgação da língua e da cultura portuguesas é assegurada pelo Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, I.P. desde 2010. A rede EPE no nível pré-escolar e nos ensinos básico e secundário contempla atualmente 13 países, envolve mais de 300 professores e cerca de 17.000 alunos.
O EPE tem vindo a sofrer alterações que refletem tanto as mudanças económicas, sociais e tecnológicas da sociedade, como as alterações das características da migração na atualidade. A sua reconfiguração tem como objetivo ir ao encontro das características das crianças e jovens luso-descendentes e das expectativas das famílias portuguesas na diáspora.
Com efeito, muitas famílias acabaram por mais ficar mais tempo do que o originalmente planeado, decidindo-se outras a ficar definitivamente no país de acolhimento, pelo que os seus filhos frequentam aí a totalidade do percurso escolar. Deste modo, o perfil das crianças e jovens emigrantes portugueses tem vindo a mudar gradualmente ao longo do tempo. Muitos já são segunda e até terceira geração, possuem características e expectativas muito diferentes da geração anterior e apresentam um repertório linguístico e cultural muito diferente e diversificado.
Neste contexto, fruto das alterações mencionadas, o EPE deixou de ter como objetivo primordial a posterior reintegração das crianças e jovens emigrantes no sistema de ensino português, incluindo entre os seus principais objetivos, para além do ensino da língua e cultura portuguesas, a preocupação de apoiar a construção coesa e harmoniosa da identidade e o desenvolvimento de uma competência plurilingue e intercultural, facilitadora da integração bem sucedida no país de acolhimento e, no mundo, em geral.
O trabalho pedagógico-didático do EPE é orientado por um quadro de referência específico (QuaREPE), um documento que descreve o desenvolvimento de competências na língua portuguesa, nomeadamente: competências gerais, competências relacionadas com outras áreas curriculares, consciência intercultural, competências comunicativas na língua e uso da língua. As competências são descritas de acordo com cinco níveis de proficiência linguística: A1, A2, B1, B2 e C1 que refletem a progressão em diferentes domínios sociais da comunicação. A partir de 2013, os alunos do EPE podem fazer exames específicos, obtendo, desta forma, a certificação das suas competências na língua portuguesa.
Em geral, as aulas do EPE decorrem em regime extracurricular, portanto fora do horário regular do sistema de ensino do país de acolhimento e em contextos muito diversificados devido, por um lado, aos perfis linguísticos e sociais dos alunos e das suas famílias e, por outro, à realidade específica de cada um dos países de acolhimento.
Por exemplo, na Suíça, no presente ano letivo, o EPE conta com cerca de 9.700 alunos, desde os 7 aos 18 anos, que se distribuem pelos diversos níveis de A1 a C1. As aulas realizam-se após o horário escolar regular, o que representa para os alunos um prolongamento do seu horário letivo. Nas aulas, desenvolvem-se estratégias e atividades variadas, onde se incluem projetos que vão ao encontro dos interesses dos alunos e também expandem as áreas de conhecimento, como é o caso do Projeto “Ciência no EPE” desenvolvido a partir do ano letivo de 2017-2018, na Suíça. Também são realizados eventos que incluem a presença de autores de língua portuguesa, visitas de estudo e intercâmbios com escolas em Portugal, entre outros.
A tarefa dos professores do EPE situa-se no necessário equilíbrio entre a gestão curricular dos conteúdos linguísticos e culturais a trabalhar, a gestão da dimensão afetiva que liga os alunos às raízes da cultura portuguesa e ainda a capacidade de estabelecer pontes e contactos com a língua e cultura do país de acolhimento.
Muitas famílias portuguesas reconhecem a mais-valia do EPE enquanto um apoio à sua tarefa na manutenção da língua portuguesa e matriculam os seus educandos junto do Camões, I.P. demonstrando uma vontade firme em incluir a aprendizagem da língua e cultura portuguesas no percurso escolar dos seus filhos. Essa determinação pode contribuir significativamente para o desenvolvimento sólido e coeso da identidade dos seus filhos, uma vez que o EPE os ajuda a construir uma imagem positiva de si próprios e da sua pertença à cultura portuguesa, para além da pertença à cultura do país de acolhimento (e/ou a outros países).
As palavras de uma professora do EPE na Suíça refletem o comprometimento das pessoas que lhe dão corpo e as potencialidades do EPE na atualidade, projetando-as no futuro: Para mim, o EPE é um legado e uma missão onde a língua, a cultura e os afetos são o seu maior expoente. É, ainda, a ponte que convida e transforma o potencial linguístico e cultural da diáspora em oportunidades”.   
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